O Youtube e Noticiários
comprovam: passamos de consumidores de filmes como o eletrizante clássico “Twister”,
dos anos 1990, para atores de cenas realísticas de alta intensidade que nada
devem a ficção. Em minutos, ventos de até 250 km/h arrancaram edificações,
plantações, patrimônios naturais, culturais e sonhos de trajetórias individuais
e familiares em Xanxerê e Região
.
E daí, automaticamente
aparece em minhas memórias, cenas de 1983 e 1984, botes, helicópteros, lonas e
uma visão privilegiada do alto do morro da Igreja de Riachuelo, em Lontras, SC.
E lembro-me de nosso 2008, tão vívido e impactante ainda, como tinta de uma casa
recém pintada na cor barro vermelho.
E chego a uma hipótese:
se o Vale é do Itajaí, quem comanda são os homens e mulheres firmes na ilusão de
uma falsa segurança, balizada pela dominação de agentes econômicos, científicos,
políticos e intelectuais com poder de apontar uma Modernidade de progresso.
Coisa démodé.
Beck discute a
diferença entre Risco e Incerteza, do ponto de vista sociológico. O que
aconteceu em Xanxerê é um fenômeno carregado de incertezas – o segundo grande
tornado catarinense, o primeiro foi o Catarina (2004), ambos sem registros
anteriores – diante de um cenário de intervenção humana radicalizada sobre a
paisagem natural e cultural.
Um morro sempre teve a
probabilidade de deslizar, Mas, quando centenas de casas construídas, traz
consigo cenários de incerteza e insegurança que acompanha tal ocupação,
ampliando os riscos possíveis.
Quer dizer, estamos
numa época em que decisões políticas precisam ser tomadas; e ações iniciadas;
baseadas em alto custo socioeconômico.
Risco e incerteza
dependem, em grande parte, de conhecimento perito, informação e poder, assim como
a capacidade de definir as políticas públicas e quais serão suas dimensões. Já
dissemos que a Modernidade, em razão dos agentes que dominam a cena pública contemporânea,
incute um futuro ainda repleto de ilusões, com mais benefícios que riscos.
Um grande problema no
campo dos governos é a ausência dessas dimensões – Risco e Insegurança – nas
grandes obras e ações de planejamento urbano de nossas sociedades, ávidas agora
por especular com imóveis e terrenos ou ganhar dinheiro via monocultura
intensiva de latifúndio. Apesar disso, elas se impõem cotidianamente, como comprovam
todos os desastres socioambientais onde pudemos observar o despreparo de
autoridades e sociedades para a prevenção e enfrentamento dessas incertezas e
riscos.
Como se disse, no caso
das políticas públicas, nem todos podem participar das discussões de quais
serão as dimensões eleitas e incorporados por tais políticas. Trata-se de um
tipo de recurso ou poder, que legitima dominações. Estão cegos os que jogam
para o futuro decisões políticas de custo presente, apenas por continuidade de
projeto político.
Uma região como a do
Vale do Itajaí deveria possuir um consórcio incluindo todos os municípios a fim
de harmonizar políticas comuns contra nossos riscos de enchentes e
deslizamentos, no cenário de modificações urbanas que trazem incertas e
inseguranças, tamanha a intervenção humana. Parte da ação depende do envolvimento da
sociedade civil. Não será difícil, como demonstram pesquisas que apontam para a
capacidade associativa nas cidades do Vale do Itajaí. Falta o associativismo
tornar-se rede, sair do “cada um no seu quadrado”.
Entre as futuras pautas
d@s futur@s candidat@s a vereador(a), prefeit@, em 2016, é preciso políticas
públicas de enfrentamento a riscos e incertezas socioambientais e culturais em todas as políticas públicas. Se existem políticas sociais e setoriais, como elas incorporarão o risco e a incerteza, seja ela uma política de desenvolvimento ou assistência social.
As incertezas ampliadas pela ação humana estão ausentes do debate político e
social. Nossos administradores, nesse quesito, estão desqualificados,
lesionadores do futuro que são em suas motivações egoístas.
BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997.